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Novo partido de Marina Silva e a utopia na política

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Marina Silva entrou para os radares do que eu chamo de política mainstream – quando muita gente passa a conhecer uma determinada figura – em 2010. Na época, candidata à presidência pelo Partido Verde, ela apresentou uma plataforma um tanto revolucionária: a intenção de reformar a política partidária feita hoje para, a partir disso, propor mudanças reais na democracia brasileira. Um discurso corajoso e um tanto utópico de uma aparentemente frágil ex-petista e ambientalista lá do Acre.

Com propostas que foram além do atual Fla-Flu partidário brasileiro, Silva arregimentou 20 milhões de votos e fãs em todo o Brasil. Pouco depois do pleito, divergências internas com o PV tiraram-na do partido. A partir daí, nasceu a iniciativa de criar uma nova legenda. “Mais uma?”, perguntam os céticos de plantão, instigados até pela criação do PSD, recém-fundado e  braço direito do fisiologismo peemedebista.

É difícil responder a questão. O novo partido de Marina traz, pelo menos à primeira vista, uma plataforma que leva a sustentabilidade e a reforma política ao limite. É exatamente o inverso do que formulou o nascimento do PSD – que é a atração quase que irresistível ao governismo e suas benesses. E, ao que parece, quer fazer um papel muito além dos animadores de plateia que são os partidos pequenos.

A #rede, forma como foi nomeado o partido, diferente já até na sua concepção linguística, é o resultado disso tudo. Começou ontem, em evento em Brasília, e já desagradando nomes da direita e da esquerda brasileira. Essa insatisfação pode ser um bom caminho. Se a proposta e a forma que o partido se pautar daqui para frente for além da picuinha dos dois lados, será um grande avanço. Aliás, em entrevista à Folha de hoje, Marina Silva falou que não são nem de direita, nem de esquerda, mas são “para frente”.

É uma declaração importante por ser preciso pensar em uma nova política para um novo tempo. Tanto a direita, quanto a esquerda parecem estagnadas em algum momento perdido ali dos anos 60. A crise econômica mundial, o surgimento da internet e das novas formas de movimentação política exigem uma democracia que vá além daquilo que os filósofos liberais e comunistas trouxeram. Renovar a política e a forma de se fazê-la é urgente em um mundo veloz e de aspirações diferentes das do século passado.

Quero acreditar que a #rede seja capaz de refrescar os ares da política brasileira, assim como o Partido Pirata – ainda que timidamente – anda fazendo na Europa. Que seja capaz de entender que a internet pode ser uma poderosa ferramenta a favor da democracia, se ela for bem utilizada. E que entendam também que, para além das concepções econômicas do capitalismo e do socialismo, os direitos humanos, a sustentabilidade, a liberdade de expressão e a livre circulação de conhecimento devem vir em primeiro lugar.

Porque não adianta ter um modelo econômico, seja lá qual ele for, que desrespeite a dignidade humana ou que não colabore para manter o mundo mais sustentável. Nem o capitalismo, nem o socialismo foram capazes de superar esses problemas, a história prova esses defeitos. Ou que, no mundo atual, existam sociedades que abram mão da liberdade da expressão e a da circulação de conhecimento em nome de uma forma de lidar com a economia.

Criar um partido dentro desse contexto não é tarefa fácil. Há muitos obstáculos para se sobrepor, de políticos e políticas jurássicas, filhas diretas da Guerra Fria, a àqueles que transformaram o poder em uma forma objetiva e egoísta de atingir metas pessoais. Se a #rede nasceu para se diferenciar a da política tradicional, propondo, discutindo e estabelecendo uma nova forma de pensar o poder, ponto para Marina Silva. Se não, infelizmente, será condenado ao mesmo limbo que vive a política brasileira hoje.